É já trivial notar que dia 30 de janeiro, meros meses depois das eleições autárquicas, os portugueses vão de novo às urnas. A afamada geringonça, essa única e intrépida solução governativa que ia fazer crescer o país, fortalecer o SNS, pôr mais dinheiro no bolso dos portugueses, ganhar o Euro outra vez, reconquistar Olivença e Ceuta, etc., afinal não só não fez nada disso como nem conseguiu durar duas legislaturas.
António Costa candidatou-se em 2019 apostando na geringonça. Em 2015, a solução nunca foi mais do que a velha política do bota-abaixo e o mau perder a que o Primeiro-Ministro já nos tem acostumado. Nunca houve intenção de apresentar uma solução construtiva; vendo que tinha na mão a queda do XX Governo Constitucional, que durou menos de um mês, não hesitou em atravessar a linha até então intransponível que separava o PS da esquerda radical. Que António Costa não tinha qualquer visão construtiva para o país é hoje patente; tanto que no debate com Rui Rio, para o qual presumo que se tenha preparado, não conseguiu nada mais forte do que uma manchete do Expresso que alerta para a possibilidade de Costa eventualmente chumbar um governo minoritário da Direita. E depois? Costa não diz. Visão para o país? Costa não tem.
Em 2019, como dizia, o PS apresentou-se a eleições com o alívio de ter inesperadamente conseguido sobreviver uma legislatura inteira. A geringonça, essa experiência ditada pela ganância do PS e pela subserviência da esquerda radical, era agora o projeto em sufrágio. Digo subserviência, sim, porque é ingénuo acreditar que quem veste as calças são o BE e o PCP, que nem no governo estão e que apoiarão o PS sempre que o PS a isso se preste. Toda a governação desde 2015 até à queda do governo tem sido apoiada pelo BE e PCP, que assinaram por baixo as medidas do governo apesar das lágrimas de crocodilo. Mas as medidas foram as do PS. A culpa desta governação é do PS, não do BE ou do PCP. Se, como apontou Rui Rio, este governo conduziu à maior carga fiscal em percentagem do PIB de sempre em 2020, não é à chantagem do BE ou do PCP, mas à “boa” vontade do PS que o devemos. Dois anos depois, o que dizer da geringonça? Evidentemente não funcionou. Não funcionou politicamente porque a Assembleia da República, pela primeira vez desde 1979, chumbou um Orçamento do Estado. Mas, mais do que isso, não funcionou para os portugueses. Enquanto deu para surfar a onda das reformas do governo PSD, o PS conduziu precisamente a mesma política que tinha criticado, cortando investimento nos serviços públicos – mas fê-lo de forma mascarada, às escondidas dos portugueses, aprovando (com a conivência da Esquerda que vem agora precisamente a mesma política que tinha criticado, cortando investimento nos serviços públicos – mas fê-lo de forma mascarada, às escondidas dos portugueses, aprovando (com a conivência da Esquerda que vem agora criticar a sua gestão) Orçamentos do Estado com aumentos do investimento, mas taxas de execução vergonhosas. Em 2020, por exemplo, apesar de cada vez mais portugueses sem médico de família ou em listas de espera, o valor de facto investido no Serviço Nacional de Saúde foi 98 milhões de euros abaixo do valor orçamentado. 27% do valor orçamentado ficou por executar. Ou seja: mais de um quarto do dinheiro que António Costa prometeu aos portugueses investir no SNS ficou em cativações. Ou foi para a TAP. Em junho de 2021, convém lembrar, o número de portugueses sem médico de família ultrapassou o milhão.
Ir a votos não é uma crise política; é a democracia a funcionar. O PS quer a maioria absoluta que não merece, não por querer mudar Portugal – toda a sua campanha é um apelo à continuidade – mas por pura ganância. A continuidade do PS não é mais que a estagnação. Os portugueses merecem melhor do que alguém que não tem um projeto político, mas um OE chumbado. Os portugueses merecem uma visão para transformar a nossa economia e recuperar a nossa competitividade. Por tudo isto, o voto reformista e responsável só pode ser no PSD.
Duarte Amaro
Pres. da Mesa do Plenário da JSD SBA