Nova USF, Mas Sem Reforço de Valências
Nos últimos anos, a gestão da Câmara Municipal de São Brás de Alportel tem demonstrado uma gritante falta de estratégia e coerência na planificação urbana e na gestão dos recursos públicos.
O caso mais recente desta inconstância política é a sucessão de obras no Centro de Saúde e a subsequente decisão de construir um novo edifício para a Unidade de Saúde Familiar (USF), uma mudança que expõe a falta de visão de longo prazo deste executivo municipal.
Em 2024, a Câmara Municipal celebrou a conclusão das obras de requalificação do Centro de Saúde, um projeto que representou um investimento superior a 300 mil euros, financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). O argumento inicial foi que esta modernização serviria para melhorar as condições da USF e proporcionar melhores serviços à população. No entanto, poucos meses depois, a autarquia anuncia a primeira pedra da construção de um novo edifício para deslocalizar a mesma unidade, num investimento de 2,2 milhões de euros.
A construção de uma nova infraestrutura é sempre uma mais-valia para o concelho, no entanto, o problema reside na falta de uma estratégia sólida e coerente.
O executivo municipal tem defendido que este investimento trará novas valências para a saúde, mas a esfera do Ministério da Saúde não prevê qualquer reforço de novas valências para esta unidade, o que levanta dúvidas sobre os reais impactos desta obra na melhoria da prestação de cuidados à população como é afirmado.
Além disso, este projeto poderia ser a oportunidade para defender o regresso do serviço de urgência para São Brás de Alportel, encerrado pelo governo de José Sócrates sem grande contestação, à data, por parte dos autarcas locais, possivelmente por alinhamento político com o governo da altura ou ainda as camas de internamento que chegaram a estar localizadas no 1º andar deste edifício. No entanto, a autarquia não tem demonstrado qualquer iniciativa nesse sentido, deixando a população sem estas valências essenciais.
A falta de planeamento fica ainda mais evidente quando se olha para a localização escolhida para o novo edifício da USF: o terreno onde, em 2021, aquando da inauguração do Terminal Rodoviário, a autarquia prometeu construir um jardim público.
Na altura, o executivo municipal destacou a importância deste espaço verde para melhorar a qualidade de vida dos são-brasenses, promovendo um ambiente mais sustentável e harmonioso. No entanto, sem qualquer explicação ou consulta à população, esta promessa desapareceu do discurso político, sendo agora substituída por um projeto que não irá aumentar a oferta de serviços de saúde no concelho.
A colocação da primeira pedra da nova USF em ano eleitoral revela claramente uma estratégia de oportunismo político. Em vez de um verdadeiro compromisso com a melhoria dos serviços de saúde, esta cerimônia parece ser apenas uma ação de campanha, sem garantias concretas sobre a real eficácia deste investimento. Anos de promessas e adiamentos sugerem que a prioridade não tem sido responder às reais necessidades da população, mas sim criar eventos mediáticos para mostrar trabalho em momentos estratégicos.
Esta gestão errática e pouco transparente da autarquia é sintomática de um problema mais profundo: a falta de uma visão estratégica para São Brás de Alportel. Em vez de tomar decisões coerentes e bem fundamentadas, parece que a autarquia está apenas a reagir a circunstâncias, muitas vezes impulsionada por financiamento externo, sem avaliar o impacto real das suas escolhas.
Entretanto, problemas estruturais persistem. O concelho precisa de uma Unidade de Cuidados Continuados, uma necessidade cada vez mais urgente, considerando que a população de São Brás de Alportel é maioritariamente envelhecida. A ausência desta unidade compromete a qualidade de vida de muitos idosos e das suas famílias, que enfrentam dificuldades no acesso a cuidados prolongados e reabilitação.
Esta carência torna-se ainda mais crítica quando comparada com concelhos vizinhos que já dispõem deste tipo de serviço., uma necessidade premente para uma população envelhecida. Apesar dessas várias promessas feitas ao longo dos anos, esta unidade continua sem sair do papel, deixando muitas famílias sem resposta para as suas necessidades de acompanhamento e reabilitação.
O que se vê em São Brás de Alportel é um padrão de governança focado na construção de infraestruturas sem um real impacto na qualidade de vida dos munícipes. Fazem-se obras para mostrar trabalho, mas sem uma visão sólida para o futuro.
A população merece mais do que isso. Merece uma autarquia que respeite os compromissos assumidos, que planeie com seriedade e que coloque as verdadeiras necessidades dos são-brasenses em primeiro lugar.
A Barragem Que São Brás Perdeu: Incompetência e Falta de Influência do Executivo Municipal
Durante décadas, a Barragem do Monte da Ribeira ou agora designada Barragem da Ribeira do Alportel, foi anunciada como uma infraestrutura essencial para o abastecimento de água e a resiliência hídrica do concelho de São Brás de Alportel. Um projeto que surgiu nos anos 80, mas que nunca saiu do papel devido à inércia dos sucessivos executivos municipais. Agora, a verdade torna-se inegável: a barragem será construída fora do concelho, mais concretamente na Picota, no concelho de Tavira.
A incapacidade dos sucessivos executivos em garantir que São Brás de Alportel fosse o local escolhido para esta infraestrutura estratégica é evidente. Durante anos, o município limitou-se a “reforçar a importância” do projeto, mas sem a assertividade necessária para influenciar as decisões do governo. São Brás de Alportel perdeu esta oportunidade histórica, para garantir este investimento no seu território.
Ainda mais grave, o executivo socialista agora tenta confundir a população. Recentemente, a Câmara Municipal reuniu-se com a Ministra da Ambiente para debater a barragem, mas omitiu deliberadamente que a infraestrutura já não será construída no concelho.
A perda da Barragem do Monte da Ribeira não é apenas uma questão administrativa, mas um reflexo da falta de peso político do atual executivo. Não houve capacidade para pressionar o governo, não houve liderança para garantir que São Brás de Alportel não fosse preterido em favor de Tavira. O resultado? Uma barragem que poderia ter sido um marco no desenvolvimento do concelho e no reforço da sua sustentabilidade hídrica, será agora um ativo positivo, sem dúvida, mas localizado no município vizinho.
Os são-brasenses merecem saber a verdade: o concelho foi esquecido e preterido porque quem lidera a autarquia não soube lutar pelos seus interesses. O futuro exige uma nova abordagem, uma liderança forte e determinada, capaz de garantir que São Brás de Alportel não continue a perder investimentos estratégicos para outras localidades.
A inércia e a falta de visão política custaram-nos a barragem. O que mais estamos dispostos a perder?
Bruno Sousa Costa
(Vereador em Regime de Não Permanência, na Câmara Municipal de São Brás de Alportel)
10 de fevereiro de 2025